A Cultura de Povo sem Cultura

Publicado por Homero Carmona em

Ok, este aqui pode ser um artigo ”off-topic”, mas acredito que um site de viagens seja um excelente lugar para provocar tal reflexão, afinal, regularmente usamos frases ”só no Brasil acontece essas coisas”, ou alguns mais otimistas dizem que  ”é assim pois somos uma sociedade/democracia jovem” justificando o porque de tanta corrupção e falta de educação.

Os fatos deste fim de semana só me fazem crer que independente de qualquer coisa, eu morrerei antes de ver um Brasil pautado pelo respeito, honestidade e colaboração.

Em um animado (e polêmico) almoço com o pessoal do trabalho discutíamos a péssima fase de destruição econômica, política e moral do país. Como muitas vezes acontece, trouxemos o assunto para a nossa realidade, ou seja, trazendo a reflexão ”será que nós somos diferentes disso que estamos criticando?”.

Na mesa, entre os envolvidos (eu inclusive), ficava a sensação de que todos ali estavam um pouco acima dos demais. Criticamos, demos exemplos ruins de outras pessoas. Isso tudo faz parecer que somos a parte boa do país, a que está fazendo a coisa certa. Eu, particularmente, fiquei ligeiramente encabulado (mas logo passou, é bem verdade), pois alguns falaram de medidas que estavam tomando para economizar água frente a tamanha crise. Eu não tinha nenhum exemplo, me senti esbanjando, talvez eu estivesse mesmo.

Foram alguns exemplos de péssima conduta: um falou de uma gerente (portanto, alguém com algum “sucesso” e instrução) que não estava nem aí para o racionamento de água e continuava tomando banhos de horas; outro falou de um cidadão que pagava propinas as garçons de bares para que não anotassem algumas bebidas. Todos ficaram horrorisados, revoltados!

E quando a verdade vem à tona…

Horas mais tarde, eu queria agendar um médico e descobri que o meu convênio não cobria, reembolsaria apenas R$ 99 dos R$ 300 da consulta. Quando comentei isso para a pessoa que me indicou o médico (e estava na mesa do almoço), veio a frase que me deixou sem reação, fiquei branco: ”Ah, mas por que você não pede para ela fazer dois boletos de R$150, aí você consegue um reembolso de R$ 200.”

PERPLEXO…

Perplexo por tudo… Por conta da recentíssima conversa, por conta do emissor (alguém muito estudado, jovem, bem remunerado, que havia viajado a mais de uma dezena de países), e principalmente pela conclusão de que o jeitinho brasileiro de levar vantagem é tão enraigado em nosso dia-a-dia que nem notamos. Talvez a sugestão tenha sido feita, sem mesmo notar que estava recomendando que eu fizesse uma fraude.

No dia seguinte, saí com um grupo de amigos em Curitiba. No local, ao comprar dois refrigerantes, você ganhava um vale drink. O refri era caro, R$ 5 / unidade, mas pelo menos ganhava o drink. Eu e meu amigo ganhamos um vale cada um e na hora que retornamos a mesa, já de posse do nosso drink, ele ostentou ”olha aqui, não pediram meu vale”.  De novo, alguém estudado, que morou fora etc etc.

Minha conclusão e minhas desculpas…

Peço desculpas aos meus dois amigos que talvez se reconheçam lendo isso aqui, mas não vou dizer aqui que a culpa é do Brasil, pois não é. O Brasil é apenas um pedaço de terra, sem vontade própria. São as pessoas que vivem neste pedaço de terra que são as culpadas, NÓS!

Eu de fato acho que essa nossa mania de levar vantagem é algo tão profundo que façamos algumas coisas até mesmo sem perceber (como aconteceu com a minha amiga, e como certamente já aconteceu comigo vez ou outra), e por isso cabe  a cada um de nós a reflexão a cada ato ”será que isto é o correto ou estamos tentando levar vantagem de algo?”. Mas, essa reflexão só vale, se quisermos mudar… Se quisermos manter tudo uma bosta mesmo, aí é só continuarmos assim: criticando os pilantras porque levam vantagem no que fazem, e levantando vantagem no que nos é conveniente e inventar uma porção de desculpas esfarrapadas – pago muito imposto, todo mundo faz isso etc etc etc.


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