2022: É hora de parar de evitar as conversas difíceis

Publicado por Homero Carmona em

Uns dias atrás, em uma daquelas conversas corporativas pré-reunião enquanto esperamos todos chegarem, eu fiz uma piada ambígua (minhas favoritas), fazendo um provocação sobre política. De maneira quase instantânea veio uma pessoa interrompendo “Ah, não vamos entrar nessa discussão”.

Veio um estalo na minha cabeça:

mas cara&$o, é justamente agora que precisamos falar sobre isso! Quanto mais difícil a conversa fica, mais precisamos ter ela!

A piada não tinha a intenção de começar aquela discussão ali, não haveria tempo, em mais poucos minutos todos estariam na sala e precisaríamos focar nos negócios.

O ponto é que essa atitude de “fugir da conversa difícil”, em especial da política, se tornou tão comum. Estamos perdendo, diariamente, oportunidade de aprender e quebrar essa polarização horrível em que nos colocamos.

Estamos traumatizados das discussões difíceis

Por uma série de circunstâncias, estamos sendo cada vez mais levados à polarização de tudo. Seja a opinião sobre um político, partido, artista, religião ou até mesmo sobre a vacinação da Covid-19, opinião, crença e fatos estão cada vez mais sendo confundidos e manipulados.

A situação chegou ao extremo pessoas romperem amizades ou até laços familiares por conta de uma discussão sobre política.

Que loucura é essa?

Para mim, o motivo disso é bastante claro e sempre quando percebo este caminho nas minhas discussões eu as interrompo.

Em certa conversa com uma pessoa muito muito próxima e com uma visão bastante diferente da minha eu parei a discussão em um ponto parecido com esse:

– Ah, mas então você acha que seu político é um santo?

– Não… Mas é que eu acho, que… é… – basicamente eu dei uma vacilada na hora de construir o raciocínio, e então veio…

– Ahhhhh, gaguejou perdeu!!!

Oi?

Estamos discutindo sobre futebol ou sobre algo que efetivamente impacta nossas vidas? O assunto é minha capacidade de comunicação ou sobre qual político é melhor para nosso país?

O motivo porque as conversas difíceis ficam impossíveis e destroem relacionamentos

Conversas Dificeis - Foto de Liza Summer no Pexels
Conversas Dificeis – Foto de Liza Summer no Pexels (2)

Se não ficou claro no exemplo, vou explicar: as conversas difíceis sobre coisas importantes terminam de maneira ruim porque em algum momento as pessoas param de falar do assunto e começam a atacar o interlocutor.

Minha pessoa amada, quando resolveu tirar sarro da minha gaguejada, abandonou completamente o mérito da discussão e resolveu me desqualificar como alguém que não poderia estar tendo aquela conversa. O ponto dele (por trás da piada) era que se eu não conseguia responder as ponderações na mesma velocidade que ele (ou tão rápido quanto ele gostaria) é que eu de fato não sabia o suficiente para ter aquela discussão.

O fato é que as pessoas são diferentes.

Eu sou uma pessoa que penso muito enquanto converso, então vou construindo ideias (eu eventualmente mudo de ideia) enquanto falo, não tenho o estilo “lacrador” que meu querido tem.

Além disso, alguns são bons em uma coisa, mas nem tanto em outras.

Você desqualifica o Pelé como jogador, por ele notoriamente não ser um bom orador? Ou, levando para o absurdo, você desqualificaria Stephen Hawking como teórico e estudioso porque ele não conseguia falar de física?

A outra parte da história é que nessas polarizações políticas é que não estamos falando sobre fatos concretos, ninguém tem a verdade absoluta nem nunca terá. Desqualificar seu interlocutor é perder a oportunidade de exercitar a sua empatia e entender, do ponto de vista único e exclusivo dele, porque aquela é a verdade daquela pessoa.

Por que devemos ter as conversas difíceis sobre política?

Se você acha que deveria ter uma conversa difícil com alguém que você ama, normalmente, quanto mais você posterga, pior fica para todo mundo. Se acha que deveria ter uma conversa difícil no trabalho (aumento, feedback para o chefe etc), quanto mais demorar, mais difícil ela será. Ou, em algum momento, a situação estará tão crítica, que não adianta mais discutir, Inês é morta, como diria Camões.

Seja lá qual for seu posicionamento político, será que não é disso que se trata agora? Talvez tudo que quem está polarizando queria é que deixemos para conversar quando for tarde demais.

Imagine a seguinte situação totalmente hipotética:

Para você, especialista em Economia, claramente um candidato tem um plano que vai jogar o Brasil de volta no ciclo da hiperinflação. Você tem um ponto de vista que é exclusivo seu entre seus amigos e familiares, pois ninguém mais é economista.

Ao mesmo tempo, você percebe que todos estão absolutamente dispostos a votar neste candidato com um péssimo plano econômico. Além disso, por um situação da vida, você é a pessoa com melhor condição financeira e seria o menos impactado pela volta da inflação.

Visto que as últimas conversas acaloradas sobre política, a decisão fácil é “deixar esse bando de ignorantes fazerem o que quiserem e eles que se ferrem”

A decisão difícil (e normalmente a acertada) é tentar o que está motivando cada uma daquelas pessoas e demonstrar, dentro da visão delas, porque aquilo vai ser ruim para eles, apesar de outras coisas parecerem positivas.

É sobre encontrar o que é melhor para todos!

Não é simples fazer alguém te ouvir, não é fácil fazer alguém pensar, muito menos fazer ela mudar de ideia. Mas é necessário.

O mesmo, vale para nós mesmos, é difícil ouvir de fato, é difícil baixar a guarda e repensar, muito mais difícil mudar de ideia depois de anos vendo o mundo de certa maneira. Mas é necessário.

Essa conversa precisa ser iniciada com possibilidade de que você seja a pessoa que precisa mudar opinião.

Como sair dessa? Como ter uma conversa difícil de maneira positiva?

Vamos fazer isso juntos!
Vamos fazer isso juntos – Foto de cottonbro no Pexels

A primeira é que você precisa tentar e assumir a responsabilidade por isso. Saber assumir que errou na abordagem ou no que você falou. Tentar de novo de outra maneira. Pedir desculpas, por vezes contrariado.

A segunda é que o foco não pode estar no indivíduo, precisa estar na solução do problema, do problema comum: um Brasil melhor dirigido, fatalmente será melhor para todos.

Reciclando meu exemplo sobre economia, talvez você esteja preocupado com a inflação, mas talvez seu interlocutor esteja mais preocupado com a educação. Ele topa uma inflação maior se ele entender que os filhos dele vão ter mais oportunidades de estudo.

Não parece, não é simples, mas as duas coisas estão muito relacionadas (educação e economia). Mesmo focando em encontrar qual seria a solução e qual o candidato que mais se aproxima disso.

Não vai ser fácil. Você vai ser interrompido. Você vai interromper. Alguém vai ser grosso. Mas nós podemos fazer, nós conseguimos fazer. Precisamos fazer. É pelo nosso bem.

A solução não é deixar de falar de política e das próximas eleições. A solução é falar de política com a mente e os ouvidos abertos, de maneira verdadeiramente interessada no que seu interlocutor está falando, querendo e sentindo. E lembrando que, melhor que progredir e cuidar do seu cercado, é que todos progridam juntos.

Vamos falar com seriedade, interesse e leveza para construir um país melhor!

Esta é a forma que eu vejo, mas talvez você veja as coisas Por Outro Lado… Por isso, discorde, deixe seu comentário e a sua opinião abaixo!

Categorias: Política

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