Agilidade Teísta: Quando Algo passa a ser uma Religião?
Hoje, em mais um dia de Lean Coffee, eu fiz uma provocação: quais são os resultados ruins, ou seja, externalidades, do uso dos métodos ágeis? Em vez de ter resposta objetivas, notei uma confusão muito grande entre os problemas em APLICAR métodos ágeis e os PROBLEMA QUE ELES GERAM.
Vem comigo…
O motivo da pergunta…
Após participar por anos deste grupo de agilidade, eu continuo achando que métodos ágeis são uma ótima opção para organizações de todos os tipos. Acredito que o famoso “mindset ágil” é algo que pode nos ajudar a lidar positivamente com os erros, superar dificuldades, encarar negativas como coisas temporárias e tudo mais…
Ao mesmo tempo, eu vejo diferentes gerações de profissionais (e mais importante, pessoas) tratando o tema como a última verdade. Para piorar, é comum a demonização de métodos não-ageis, como o Waterfall e de “pessoas que não conseguem internalizar o mindset ágil”. Eu mesmo cometi o ato falho e citei exemplos disso ao longo do papo…
O que eu vejo agora é que “O Ágil” se tornou uma entidade inviolável. Se você não gosta, fala mal, discorda é como se você fosse um bolsomonion ou lulapetista, Flamengo ou Fluminense ou qualquer outra polarização que você prefira.
Quando isso acontece, nós paramos de discutir positivamente as coisas. Uma verdade única e definitiva é estabelecida, coisa que eu não acredito que vá acontecer em algum momento da existência do Universo.
Ordens Imaginárias e Religiões
Um dos maiores pensadores do século XXI, Yuval Noah Harari, me apresentou o conceito de “Ordens Imaginárias”, que são basicamente organizações que a sociedade criou e ao logo do tempo se estabelecem tão fortemente que se tornam crenças, muitas vezes se colocando acima de leis naturais da física.
Alguns exemplos:
- Democracia – a ideia de que a escolha da maioria deve prevalecer
- Filas – o primeiro a chegar deve ser atendido primeiro
- Hierarquias – o rei é mais importante que a família real, que por sua vez é mais importante que o povo
- E os exemplos são infinitos…
Algumas dessas Ordens Imaginárias, se tornam tão arraigadas que se elevam, segundo Harari, a um status de Religião. Dois exemplos disso são:
- Democracia
- Capitalismo ou o Comunismo
As pessoas passam a dedicar as suas vidas a essas organizações. Se alguém furar a fila, dificilmente você vai encontrar alguém disposto a matar e morrer por isso. Por outro lado, ao ver a democracia sob risco, muitos se colocam nesta situação. Em nome de Religiões Teístas, em guerras com milhares de pessoas morreram. Em nome de reis, outros tantos.
Eu não tenho nenhum problema com Religiões, apesar de eu não ter uma. Mas eu tenho um grande problema em elevar Ordens Imaginadas para o status de Religião, pois a gente para de questionar o “porquê” e de considerar outras hipóteses.
E a forma que isso acontece é sutil…
Métodos Ágeis como Religião…
A meca dos métodos ágeis, Vale do Silício em San Francisco, e a bíblia da agilidade, o Manifesto Ágil são constantemente citados, assim como os deuses desta religião Politeísta: Jeff Sutterland, Eric Reis, Ken Schwaber, Simon Sinek etc. (Aos devotos, peço desculpas se elevei algum santo ao nível de divindade nessa citação).
Todos eles se tornaram argumento na minha questão hoje, mas sempre explicando os Problemas dos Métodos Ágeis, não os Problemas que eles geram.
Quando você acredita piamente em Deus ou em Nossa Senhora, não é concebível imaginar que estes dois entes possam gerar algum mal.
Quando você acredita piamente no veganismo, é difícil dizer o que ele traz de mal para o mundo.
Quando você acredita piamente no capitalismo, é difícil dizer o que ele traz de mal para o mundo. Muitas vezes o melhor argumento que emerge é a crítica ao comunismo. É o que vem acontecendo com a Agilidade, criticando os seus “opositores” Waterfall e Mindset “Fixos”.
Novamente, quando se trata de religião eu aceito o argumento de que “nada de mal emana de Deus”. Faz sentido para mim.
Agora, quando a gente não consegue mais questionar uma ordem imaginada e confunde suas disfunções com seus resultados ruins para a sociedade, chegamos em um ponto perigoso de elevar algo absolutamente banal ao patamar de religião, deixando de questionar e de buscar opções melhores.
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